sábado, 26 de maio de 2007

Voltando do filme "O cheiro do ralo".

“Sabe este cheiro que você está sentindo? É o Cheiro do ralo!”

Fui finalmente ver o filme “O cheiro do ralo” com o Selton Melo. Demorei para ver, por avareza mesmo. Não queria pagar R$18,00 para ver o filme, mas, como a curiosidade era maior, e minhas fontes de filmes pirateados não possuiam este filme, decidi colocar a mão no bolso e pagar o dinehiro. De certo fui ao cinema para prestigiar o filme, fazer número e prestar atenção nos detalhes de produção, figurino, fotografia, etc, etc, etc... Pois o orçamento era baixo e pelo que tinha lido, visto e ouvido, o filme era realmente muito bom.
Entrei na sala do Bristol,com raiva de ter que assistir ao filme ali. Preferiria ter ido ao espaço unibanco de cinema, mas infelizmente, o filme não está mais em cartaz por ali.
(...)
Gostei muito do Selton como o Lourenço, e mais uma vez, admirei sua interpretação e, como diz uma amiga minha: “Selton, passa lá em casa!” ( ^^).
O figurino era uma mistura de roupas garimpadas em brechó. Adorei o figurino do Lourenço. Boa parte das camisas que ele usava, eram parecidas com umas tantas que eu e meu namorado compramos no centro da cidade. Um estoque de camisas da década de sessenta e setenta, que o dono da confecção estava liquidando pela baratela de R$5,00 cada. Os terninhos, facilmente encontraria no brechó da minha cidade natal, que comprei boa parte do meu guarda roupa.
A cenografia foi bem pensada, visando a pequena verba destinada a elaboração da mesma. Havia em uma das cenas, um cartão da loja 60's, no velho fichário do Lourenço. Imagino que a loja tenha emprestado algumas das peças que faziam parte da cenografia.
Deixando de lado a parte de fotografia do filme, que tinha uma cartela de cores em cor de bosta, vamos falar um pouco do casting dos atores. Bem, a menina que fazia a tal drogada, era muito boa. Gostei de sua atuação. O cara do violino também. O segurança era o próprio autor do livro, que deu origem ao filme, portanto ele conhecia melhor como ninguém o que o segurança tinha que mostrar no filme... As atuações ruins, deixarei de lado, ok?
Acho que a parte mais difícil dos produtores, foi fazer o casting da bunda. Imagina? Você ali, fazendo o casting dos atores, tendo que achar uma bunda perfeita? Você vira para a atriz, pega as referências da moça e diz: “Olha,muito bom, mas agora posso ver a sua bunda?” E, aliás, que bunda eles acharam , hein? Sem celulite, redondinha... Uma bela bunda eu diria! Parabéns para os produtores!

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Palavras esquecidas em uma folha de papel...



Sei que nada que escreva aqui vai mudar o que você sente por mim, e você nem deve mudar! Essas palavras são apenas desabafos desprovidos de qualquer singularidade distinta... São algumas palavras para agradecê-lo por Ter feito parte de minha simples vida...
Escrevo a ti palavras claras, pois já não tenho medo de me mostrar... Você já aproveitou todos os pedaços de mim que poderia e, me moldou como quis...
Aquilo que provavelmente pedi e que finalmente tive, veio para me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra. Tão carente que nem todo o amor do universo poderia me consolar e me cumular... Um tal amor que não sei de verdade, por isso chamo de amor...
Eu quis nunca te ganhar, mesmo querendo, e, o que consegui foi Ter uma enorme tragédia!
Infelizmente, é só isso que posso dizer de nossa história... Prefiro te ser “sincera”? Bem, eu sou!
Porém, tudo aqui, se refere a uma vida que tivemos...
E, que se fosse ou tivesse sido real, não nos serviria... Não agüentaríamos... Nosso amor era insuportável! Abrir as portas para os nossos sonhos escaparem, foi a coisa mais sensata a fazer... Agora, o que nos restou foi o doce sabor destes nossos sonhos...
Eu estava lutando contra esta vaga primeira alegria que eu não queria perceber em mim, porque, mesmo vaga, já era horrível: era uma alegria sem retenção, era uma alegria sem esperanças...
Tentava articular uma palavra para resumir aquilo que morria, pois eu sabia que estava me despedindo para sempre de alguma coisa, mesmo junto a ti...
E já queria ceder a essa articulação de uma palavra que ainda não existia! Ter experimentado, já era o começo do inferno de querer, querer e querer... Minha vontade de querer era mais forte que minha vontade de salvação! Salvação que recusei!
Naquele dia, pela primeira vez, tratava-se plenamente de agora e, a angústia da incerteza me apunhalava por dentro como punhais de tortura chinesa... Já sabia que me seria melhor... Então, não contive minha cólera e joguei-a a você!
Foi assim que fui dando meus primeiros passos para o nada...
Hoje, minha atualidade inalcançável é o meu paraíso perdido!
Viver é sempre uma questão de vida ou morte!
Portanto, pode anunciar e gritar bem alto que morri!
Morri quando te beijei...
Morri quando te vi sair por aquela porta...
Morri quando não mais te tive a mim...
E isso é real... Pois ser real é assumir a própria promessa, assumir a própria inocência e retomar o gosto do qual nunca se teve consciência: O gosto do vivo!

Beijos,
Viva sempre...
Morra às vezes...
E nunca deixe nada te estragar!

terça-feira, 22 de maio de 2007

alem do que se vê!

Alem do que se vê...

Era uma noite fria. A lua pousava sobre sua felicidade... Momento distante? Agora já não se sabia...
Ela acendeu um cigarro. Pensava... A fumaça se perdia, enquanto ela sentia uma fina lágrima escorrer em seu rosto, levemente rosado do frio.
Era uma coisa impossível! Adentrar naquele território meticulosamente compostos por cores, sem cores... Um dia ele tivera dito a ela que preferia o mundo em preto e branco... Luz e ausência de luz... Hoje, sua ausência lhe traz silêncio. Silêncio que envolve seu coração e desperta uma Ira estranha...
Será que ele seria seu perfeito sonho? Teria que sonhar sem cor...
Ela estava pertencendo. Pertencendo ao instante já. Pertencendo aquilo que não conhecia e dando seus primeiros passos para o nada. Nada que ela mesma construiu!
- Ausência de tudo... -
Pensou vagarosamente em seus lábios tocando os dele... Com uma força maior, conseguia até sentir. Um tom de vermelho fosco lhe veio à mente, trazendo-a de volta a realidade sem cor...
De nada lhe bastava àquela coisa toda!
Ela já não se bastava...
Sentia falta de sua parte perdida há muito tempo atrás...
Razões já não lhe faltavam!
Outra lágrima escorreu em seu rosto gelado...
Tristemente, apagou seu cigarro, bateu algumas cinzas que ficaram em seu casaco e disse a si mesma:
“ Está tudo bem!”
E avançou para a sua morte diária...

Nostalgia

Nostalgia

Ganhava-se a cada instante, uma nostalgia de alegria e de Jardim e sombra...
Ela descobria em si, uma tremenda vontade de viver...
Apesar de viva, ainda assim, provava o gosto estranho da morte!
Cada instante nu, era como ela se reafirmasse mulher e provasse a si mesma seu poder...
Poder de que?
De sentir em seu peito as batidas agudas de seu coração!
Mesmo este estando cheirando a carne crua de coração de porco arrancado e destroçado!

Sim, eu mesma escrevo a mim! Não que eu não tenha a quem escrever... Talvez tenha encontrado muitas razões para escrever e a quem escrever, mas, quem escreve a mim, se não eu? Ninguém!

Eu estou com uma sensação de agulha no peito! Pontadas espaçadas e de uma doce dor!

Distância nunca foi para mim um problema tão grande... Nem tão dolorido como vem sendo agora... E, mesmo que não seja apenas uma tal distância física, seja uma distância pré- determinada, obrigatória e simples, você ainda consegue fazer parte de uma grande parte de meus pensamentos... Não consigo esconder de mim, meu sorriso doce ao pensar em ti...

Sabe, foi tão bonitinho tudo... Seu sorriso sem jeito, seu olhar de canto... Seus ângulos desfocados de delicadeza e glória!

Mas, me contenho em mim!
Ainda assim, mesmo estando em certa distância, me prendo a ti!
Querendo, não querendo e limpando minha lágrima do olho esquerdo...
Sim, sempre do olho esquerdo!

“ Se a chuva quer é trazer você pra mim...
Vem cá que está me dando uma vontade de chorar,
Não faz assim,
Não vá prá lá
Meu coração vai se entregar a tempestade!”
Marcelo Camelo

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Aquilo que não existiu...




Era uma tarde fria. O céu estava sem cor. Não havia nuvens, nem pássaros, nem sol... Apenas uma cor cinza que tomava conta de todo o infinito... Ao fundo, ouvia-se “Belle and Sebastian”. Perfeita sintonia!
Eles estavam pertencendo... Pertencendo ao instante já... A tudo aquilo tão longe previsto... E Desesperadamente sentido! Não entoavam palavras, pois estas não fariam sentido algum naquele momento... Seus olhares falavam por si... através deles, se viam... Um pelo olhar do outro... E se entendiam assim...


O triste fim de algo que nunca existiu...

Desesperadamente me entrego ao meu fracasso. Desisto! Mesmo sendo insensato te deixar ir embora... Logo agora... Como seria meu futuro ao seu lado, com toda essa mágoa guardada? Prefiro ficar livre em seus sonhos, pensamentos e lembranças... Lembranças que não passam de folhas rasgadas e rabiscadas jogadas em uma caixinha, que tem que ficar escondida...
Como pude ser tão tola a ponto de te desejar assim? Talvez seja meu Karma ficar sem você! Mesmo recriando uma longa história sobre nós. Histórias que se fundem em linhas retas, como pensamentos mágicos... Mas que logo se transformam em círculos difíceis de separar, mas que são únicos... Círculos dispostos em planos contrários, mas com a mesma história guardada em seu conjunto matemático difícil de entender... Por mais que eu tente, por mais que eu desista, por mais que eu minta para mim... Sempre será você! E, minha íntima procura pelas eminências perdidas, de nada bastarão... Nunca FARÃO SENTIDO EM MEU CORAÇÃO... Porque, sempre será você! Neste contexto todo, fico presa com este circulo vicioso que se tornou minhas retas paralelas... Um círculo que começa e sempre acaba em você!
Transformei-te em meu sonho de redenção! Transformei-te em minha busca imaginária por um amor que desconheço e que talvez nem exista... Transformei-te em um príncipe encantado... Mas, na realidade, seu “eu” maior não me serviria, pois o “eu” que te transformei já não faz parte de você... Ou talvez nunca tenha feito parte, pois te dei formas que nunca foram suas...
Agora minha moral cristã me condena por tudo que vivi ao seu lado. Por tudo que não vivi, que de um modo estranho me tomou... Não há ninguém no mundo que me liberte e me conceda a absolvição! Talvez nem a mereça, pois não conseguiria... Seria um preço muito alto a pagar...
O que me resta é aceitar...
Lembrar...
Que seja o que for, quando for, sentirei...
Como senti quando te vi,
Novamente quando te beijei...
Mas uma vez quando pensei,
Outra vez quando escrevi...
E, quando pensei não mais sentir...
Senti por Ter que esquecer...

terça-feira, 15 de maio de 2007

descontentamento...

O que eu queria te contar é algo tão misterioso quanto à própria vida. Talvez seja um pacto com a verdade. Talvez a verdade exista para ser vista e esquecida, assim como o saber... Aprende-se para guardar o que importa e esquecer o resto. Assim foi como eu acordei...

Se você soubesse como esta noite foi diferente... Como as horas demoram a passar e como passaram rápido pela manhã... Se você soubesse como é acordar a noite e não ver seu rosto na penumbra... É, talvez este seja meu Dom... Guardar estes momentos sombrios debaixo de meu travesseiro frio, sem vida, sem cor!
Sim. Eu disse sim, sei que você está bem e por isso não me culpo. Fico alegre, e caio em seguida numa tristeza sem dor! Talvez amanhã amanheça feliz, e a graça da inspiração se vá novamente... Porque só consigo ser pura na tristeza. Só assim me mostro de verdade...

Bem, dormi assim. Com meu travesseiro grande por entre minhas pernas e com o edredom sobre meu corpo. Fingi ser você! Este também é o meu grande dom... Ser uma fingidora! Mas acredito que isto não seja mal! Qual o fundamento de não ser sonhadora?

Melhor que estar morta e não saber que está morta... Isto tudo porque senti uma coisa horrível! Na realidade, me tocou... Tocou minha face, como um beijo gélido de um lábio morto! E não é estranho nem charlatanismo, mas o amor exige mais do que dá! E nunca se está satisfeito! Cobra-se, se testa, se quer, se perde! E, quem gosta de nós, quer que a gente seja alguma coisa de que eles precisem, porque é tão difícil amar sem pedir nada em troca, como amor de mãe para filho... E o que eu descobri, ou realmente abri meus olhos para ver, foi o que eu fiz com o amor... Estraçalhou-se! E eu que pensei que eu sabia amar... Percebi que não! Nem isso eu sei! E tenho tanto amor dentro de mim... Talvez seja loucura despejá-lo de uma vez... E, então descubra que seja melhor dosá-lo: Em pequenas gotas pela manhã, e alguns goles à noite! Só! E deixá-lo, enfim, fazer efeito!

Escrevo porque não sou capaz de falar. Quando falo sai um ruído quase inaudível e fraco! Ele não tem expressão, nem argumentos... Seria ele cólera? Não! É tristeza também...
E não entender o que se é, dói! Não ser o que realmente se é, dói! E não se sabe que não se é, apenas percebesse que não se está sendo... Mas você está bem, e é isto que importa agora! Nada que numa outra noite fria não se vá embora, nada como outro beijo gélido na face, nas penumbras da noite não resolvam...

Às vezes sou forte demais... E por ser forte, sou destrutiva! Autodestrutiva, talvez... E, quem se destrói, destrói também os outros! Será que estou ferindo alguém? Mas uma coisa falo ao meu favor: Nada faço de propósito! E me dói quando percebo que feri alguém... Sou impulsiva e vou... Depois fico com uma mágoa atolada em meu peito!

Você não acha que existe algo sinistro em tudo? Há sim, enquanto se espera que o nosso coração entenda! Pois é assim que sinto esta inconstância...

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Guardando o imaginário...



Vou lhes confessar uma coisa:
Guardo em mim uma tal inocência perdida que não deixo ir!
Aquela inocência infantil, secreta, que vem ao nascer e some aos oito anos...
A guardei! A guardei em mim e a procuro às vezes...
Tenho uma alma infantil... Gosto de saber o gosto das coisas como se fosse uma primeira vez...
Talvez tenha algo haver com a magia... A magia da descoberta do desconhecido sabe?
Então, guardo em mim minha tal inocência... E finjo às vezes! Talvez, na realidade, seja uma grande fingidora!
Quando era pequena, sempre quis ser atriz! Atriz de cinema, como a tal de Marlyn, aquela com a pinta na cara... E sonhava com um espelho de camarim, com luzes ao redor, em meu quartinho cor- de- rosa bebê, com cortinas no mesmo tom e um lustre de palhaço no teto.
Sonhava com uma penteadeira de gente famosa, com muita maquiagem, pentes e escovas! Sim, eu era menina. Menina pequena, como tantas outras... E gostava, de fingir ser adulta, mulher crescida, com maquiagem na cara e a tal pinta! Lembro-me de pegar lenços e colares de mamãe, calçar seus sapatos de salto, fazer um cigarro de papel e pegar minha bolsinha prata e andar interpretando no meu quarto... Eu me sentia a Marlyn, mesmo sem saber direito quem ela era.
O espelho de astro de cinema, nunca tive, mas coloquei na porta de meu quarto, certa vez, uma grande estrela amarela... Dessas estrelas que as crianças desenham, pois nunca tive Dom pra fazer estrelas... Elas são muito simétricas e isto me assusta! Sempre fui assimétrica e, mesmo quando passava pó de arroz no rosto para ficar pálida como uma gueixa e batom vermelho nos meus lábios carnudos para ressaltá-los, sempre colocava a tal pinta no lado esquerdo... Era para um lado ficar diferente do outro!
Minha mãe era boazinha comigo e me deixou escolher minha penteadeira na loja, junto com minha cama e minha mesinha de cabeceira... Queria tudo rosa, cor de menina, mas acabei por gostar mais do branco! Quando a tal penteadeira chegou, senti uma nostalgia de felicidade! Estourei todas as bolhas do plástico que veio junto com ela e fiquei horas sentada em sua frente, em meu trono de pequena princesa... Penteando meus longos cabelos negros de japonesa, fazendo caras e me pintando... Era como interpretar Marlyn, mesmo sem querer... Fingia... Apenas, fingia!
E guardo comigo até hoje essa coisa gostosa da nostalgia da felicidade, sentida com o descobrimento do imaginário! Não quero nunca perdê-la...
Serei para sempre uma fingidora!
Assim, posso ser quem quiser...
Sem me cansar de mim...

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Angustia




Estou procurando. Procurando entender o que se passa o que e essa coisa que abre um vazio dentro do meu peito, consegue entender? Você já se sentiu assim um dia?
E como se eu não conseguisse viver o que não entendo... Não consigo me entregar a essa desorientação! Como me explicar o meu maior medo? Talvez esse medo seja de se ir vivendo, ir vivendo o que for sendo... Talvez não tolere ser aquilo que não sou, e sim aquilo que esperam que eu seja... Não consigo me entregar a esse sistema que me coroe e me destrói e, ao mesmo tempo espera que eu vá digerindo, sabe, digerindo coisas que eu não queria... E tudo isso vai me destruindo. Você já se sentiu destruída? E como se Ter um vazio... Um vazio dentro da alma, uma coisa que ninguém consegue tirar de você... E você sofre... Tem medo... Simplesmente não te entende.
A vida realmente não tem sentido. É como se existissem duas pernas que andam e uma terceira que te prende. Talvez essa terceira perna seja seu medo de libertação. Você fica presa a uma rotina e simplesmente se acomoda a essa vida vazia... Se eu quebrar essa terceira perna, irei me libertar e esse medo do desconhecido faz com que eu não consiga me soltar daquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira.
Será que a realidade e aquilo que nada existiu? Quem sabe nada me aconteceu? Só posso compreender aquilo que me acontece e só me acontece aquilo que compreendo... E o que eu sei do resto? O resto não existiu... Quem sabe nada existiu? Quem sabe se tudo isso não seja nada? Ou quem sabe se esse medo que eu tenho de me entregar ao desconhecido não seja aquilo que ainda não me aconteceu? E se um dia acontecer? Estarei libertada? Terei quebrado então a minha terceira perna que me prende e me destrói? Será que estou tentando dar uma forma àquilo que eu sinto? Ou um nome, para ser mais fácil de entender, para ser mais fácil de odiar, para ser mais fácil de me libertar?
Mas, o que eu faço agora? Alguém pode me dizer? Devo ficar com essa visão toda, mesmo que isso signifique Ter uma verdade incompreensível? Ou devo dar um nome ao nada e me entregar a essa desintegração?
Entregar-me aquilo que não conheço e me por a beira do nada! E esse nada me aterroriza, pois ele já faz parte de mim.
Eu estou te assustando? Estou apenas tentando dar um nome a esse vazio dentro de minha alma... Essa coisa que me aterroriza todos os minutos dessa minha maldita vida de prisioneira! Por te falar, te assustarei e te perderei? Porem, se eu não te falar, eu me perderia e, por me perder, eu também te perderia... Então, te digo que estou assustada. E, agora basta a você descobrir se quer continuar aqui comigo... Se quiser segurar minha mão e for cúmplice dessa temida descoberta que está preste a fazer... Quero saber se você está disposto a se entregar ao nada e me dar à mão. Vamos juntos quebrar essa terceira perna que nos prende?
Ou você quer se entregar a esse paraíso que eu não quero? Logo poderei dispensar essa sua mão quente e irei sozinha com horror... Ate que toda essa metamorfose que me ocorre neste instante se faca por completo...
Por enquanto, eu te prendo... E essa sua vida quente e desconhecida esta sendo minha única e intima organização... Sem tua mão, me sentiria solta no tamanho daquilo que descobri. No tamanho da verdade...
E essa verdade e realmente inútil... Pois não sei se posso me libertar dela... O que me adianta descobri-la se eu não conseguirei pular para o outro lado do cubo?
E essa coisa que sinto não sai... Coroe-me, me consome, me dói... Consegue entender... Entender essa grande angustia que me prende a você? Que me prende ao mundo? Que me prende a toda essa maldita rotina que eu tenho que viver?
E agora? E agora que te revelei o que me prendia, será que consegui quebrar minha terceira perna e me libertar? Será que agora estou livre dessa angustia toda que me destruía?
Quantos personagens tive que interpretar ate que eu conseguisse encontrar essa verdade? Quantos homens e mulheres tive de ser para poder revelar a você essa verdade? E que eu faço com ela agora? Arranco-a de mim e te jogo? Eu devo andar e experimentar essa liberdade agora que me libertei? Será que eu posso, será que eu consigo?
Não, não seria capaz... Talvez essa angustia toda que me persegue nunca me deixe realmente me libertar, mesmo que eu saiba que ela exista, mesmo que eu revele a ti, mesmo que eu me perca...

sábado, 5 de maio de 2007

Diálogo esquecido...



Diálogo esquecido...

Os dois estavam deitados olhando as estrelas brilharem no céu. Era lua cheia, a lua que encanta, que enlouquece, num dezembro qualquer...

_ Sabe, já vivi tantos momentos românticos com outros meninos, sabia que eram momentos especiais, que guardaria para sempre comigo, mas , sempre havia um problema: Não era com eles que eu gostaria de estar! Uma outra paixão existia em meu coração, e, por alguns segundos, ela tomava a minha mente! Fazia com que esquecesse a pessoa ao lado e colocasse outra em seu lugar... Era como se houvesse sempre mais alguém... Toda aquela magia do momento desaparecia! Não conseguia disfarçar... a magia desfazia-se em minha frente!

_ Hoje você está aqui comigo, temos uma noite linda de verão, com estrelas, lua cheia, flores espalhadas pela casa, vinho em nossas taças e... o que realmente importa, é que estamos somente pertencendo, consegue sentir? Pertencendo ao nosso momento! Estamos de mãos dadas, posso sentir seu coração pulsar por elas... Ele está seguro, repleto! Não sobra espaço nele para coisas do passado...

Ela sorrio simples. Seus olhos refletiam a beleza do momento, brilhavam puros, como ela quis um dia...

_ Queria que este momento durasse a vida inteira! Estou tão feliz ,tudo parece certo... Eu, você, a lua, esse imenso manto azul, com as estrelas no céu, nossas mãos se tocando... Quero guardá-lo para o resto de minha vida e me lembrar de você!

Ele sentiu seu coração acelerar. Não esperava uma resposta tão verdadeira e simples vindo dela. Sentiu uma explosão de sensações em seu corpo, era a certeza que esperava! Virou-se para ela e disse:

_ Acho que estou apaixonado! Estou pronto para amar... Não fuja! Deixa! Preciso de você comigo... Vamos construir juntos nossa melodia, me dá a sua mão?
_ Para pularmos num precipício? Sem saber onde acaba?
_ Agora somos apenas um...
_ A queda pode ser longa...
_ Mas a poesia do momento? A liberdade batendo em seu rosto...
_ Compensam!
_ Já faz parte de mim...
_ Você consegue me ver! Não imagina como isso é importante agora... Por que sempre complicamos tudo?
_ Não sei!

O menino beijou os lábios úmidos da menina. Suas almas se encontraram! Era, enfim, felicidade...



“Então isso era a felicidade? De inicio se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade! (...) E o que se faz quando fica feliz? Que faço com a felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda que já está começando a me doer como uma angústia e como um grande silêncio? A quem dou a minha felicidade que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, ela não queria ser feliz. Por medo de entrar em um terreno desconhecido. Preferiria a mediocridade de uma vida que ela conhecia. Depois procurou rir para disfarçar a terrível e fatal escolha. (...) Ia voltar para a morte diária.”

Clarice Lispector