quarta-feira, 9 de maio de 2007

Angustia




Estou procurando. Procurando entender o que se passa o que e essa coisa que abre um vazio dentro do meu peito, consegue entender? Você já se sentiu assim um dia?
E como se eu não conseguisse viver o que não entendo... Não consigo me entregar a essa desorientação! Como me explicar o meu maior medo? Talvez esse medo seja de se ir vivendo, ir vivendo o que for sendo... Talvez não tolere ser aquilo que não sou, e sim aquilo que esperam que eu seja... Não consigo me entregar a esse sistema que me coroe e me destrói e, ao mesmo tempo espera que eu vá digerindo, sabe, digerindo coisas que eu não queria... E tudo isso vai me destruindo. Você já se sentiu destruída? E como se Ter um vazio... Um vazio dentro da alma, uma coisa que ninguém consegue tirar de você... E você sofre... Tem medo... Simplesmente não te entende.
A vida realmente não tem sentido. É como se existissem duas pernas que andam e uma terceira que te prende. Talvez essa terceira perna seja seu medo de libertação. Você fica presa a uma rotina e simplesmente se acomoda a essa vida vazia... Se eu quebrar essa terceira perna, irei me libertar e esse medo do desconhecido faz com que eu não consiga me soltar daquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira.
Será que a realidade e aquilo que nada existiu? Quem sabe nada me aconteceu? Só posso compreender aquilo que me acontece e só me acontece aquilo que compreendo... E o que eu sei do resto? O resto não existiu... Quem sabe nada existiu? Quem sabe se tudo isso não seja nada? Ou quem sabe se esse medo que eu tenho de me entregar ao desconhecido não seja aquilo que ainda não me aconteceu? E se um dia acontecer? Estarei libertada? Terei quebrado então a minha terceira perna que me prende e me destrói? Será que estou tentando dar uma forma àquilo que eu sinto? Ou um nome, para ser mais fácil de entender, para ser mais fácil de odiar, para ser mais fácil de me libertar?
Mas, o que eu faço agora? Alguém pode me dizer? Devo ficar com essa visão toda, mesmo que isso signifique Ter uma verdade incompreensível? Ou devo dar um nome ao nada e me entregar a essa desintegração?
Entregar-me aquilo que não conheço e me por a beira do nada! E esse nada me aterroriza, pois ele já faz parte de mim.
Eu estou te assustando? Estou apenas tentando dar um nome a esse vazio dentro de minha alma... Essa coisa que me aterroriza todos os minutos dessa minha maldita vida de prisioneira! Por te falar, te assustarei e te perderei? Porem, se eu não te falar, eu me perderia e, por me perder, eu também te perderia... Então, te digo que estou assustada. E, agora basta a você descobrir se quer continuar aqui comigo... Se quiser segurar minha mão e for cúmplice dessa temida descoberta que está preste a fazer... Quero saber se você está disposto a se entregar ao nada e me dar à mão. Vamos juntos quebrar essa terceira perna que nos prende?
Ou você quer se entregar a esse paraíso que eu não quero? Logo poderei dispensar essa sua mão quente e irei sozinha com horror... Ate que toda essa metamorfose que me ocorre neste instante se faca por completo...
Por enquanto, eu te prendo... E essa sua vida quente e desconhecida esta sendo minha única e intima organização... Sem tua mão, me sentiria solta no tamanho daquilo que descobri. No tamanho da verdade...
E essa verdade e realmente inútil... Pois não sei se posso me libertar dela... O que me adianta descobri-la se eu não conseguirei pular para o outro lado do cubo?
E essa coisa que sinto não sai... Coroe-me, me consome, me dói... Consegue entender... Entender essa grande angustia que me prende a você? Que me prende ao mundo? Que me prende a toda essa maldita rotina que eu tenho que viver?
E agora? E agora que te revelei o que me prendia, será que consegui quebrar minha terceira perna e me libertar? Será que agora estou livre dessa angustia toda que me destruía?
Quantos personagens tive que interpretar ate que eu conseguisse encontrar essa verdade? Quantos homens e mulheres tive de ser para poder revelar a você essa verdade? E que eu faço com ela agora? Arranco-a de mim e te jogo? Eu devo andar e experimentar essa liberdade agora que me libertei? Será que eu posso, será que eu consigo?
Não, não seria capaz... Talvez essa angustia toda que me persegue nunca me deixe realmente me libertar, mesmo que eu saiba que ela exista, mesmo que eu revele a ti, mesmo que eu me perca...

3 comentários:

Tiagho Diniz. disse...

"Procurando entender o que se passa o que e essa coisa que abre um vazio dentro do meu peito, consegue entender? Você já se sentiu assim um dia?" - Sim, todos os dias.

Muito boa a foto Cris. (texto atualmente sem comentarios, pelo menos não de olhos secos...)

Unknown disse...

cheguei numa conclusão ruim há tempos. talvez angústia não seja o oposto de felicidade. talvez seja apenas um estágio. aquele em que se descobre que felicidade é estar contente. contente de contentar-se com, apesar de. contentar-se com para não se perder tanto, para não se morrer tanto. e quem se recusa a contentar-se e quem não sabe como ultrapassar, não sabe como se ultrapassar e ultrapassar aos outros sem abandoná-los. este não saber talvez explique a angústia. espero que faça sentido isto.

Aguina disse...

Esse é o barato da literatura. Atemporal. as palavras acabam servindo para os outros. Posso me achar nessas palavras, sem tentar entender quem escreveu.
Mas consigo ao menos me enxergar
Bjs