domingo, 29 de abril de 2007

Ninguém dirá que é tarde demais...

(Pensei um dia ser continuação do texto anterior, hoje não sei!)


_Não se faz um amor, o amor nasce!- disse ela sem jeito, com medo de Ter sim, de terminar essa coisa que seria seu último romance...
_Mas se esquece? E quando ele não sai? A gente pode amar outra pessoa?- perguntou ele, a ela, olhando com olhos entristecidos de quem um dia quis, sim, se apaixonar de novo...
_ Não sei... Acho que depende do amor... Se o amor for muito grande, acho que não. Daí não sobra espaço para nascer outro amor... Sabe coisa de jardim e semente? Se o jardim não tem espaço para outra árvore, não adianta a gente plantar a semente ali... Ela não germina. Acho até que ela fica tristonha... Então, depois de lutar para nascer, ela morre...- a menina estava com os olhos cheios d’água. Não queria dizer isso, mas teve de dizer...
_É, eu sei bem como é...
_É, eu também sei...
_Você sabe amar?- perguntou o menino a ela com um pouco de alegria nos olhos, mas com dor no coração...
_Não... Sei? Ah!, Bem... Acho que sei... Talvez tenha amado uma vez...
_É? E como foi?- Fez a pergunta sem pensar, depois, ficou com medo da resposta. Já se estava envolvido! E, como muitos meninos, talvez não agüentasse a resposta...
_ Comigo foi mágico!- (os olhos dela brilhavam estranho)- Era como estar num circo! Havia muita alegria, cores, palhaços, brincadeiras... Um monte de gargalhadas! Era uma felicidade estranha... Dessas que a gente não agüenta! Um friozinho gostoso na barriga... Toda vez que o via, meu coração pulava! E fazia tum-tum-tum, sim! Realmente me sentia viva... Simplesmente, sentia!
_ E... Então, você quer dizer que gostou?- estava meio tonto com a resposta dela. Não sabia o que esperar da menina... Não podia prever nada.
_No começo sim... Todo mundo que me via, sabia! Brotava uns coraçõeszinhos de mim, sabe?-( a menina deu um sorriso lindo, desses, meio sem graça e sincero)- Eu não conseguia esconder, e também não queria! Queria mais que todo o universo soubesse! Eu amo grande... Amo intenso... Amo com todos os meus sentidos, ultrapasso todas as barreiras do entendimento, porque não existiria uma sequer palavra no mundo para descrever meu modo de amar alguém!
_Nossa!-( ele estava assustado com ela e encantado...)- Como você ama bonito!- (o coração dele sentiu um pouco de insegurança)- Mas, acabou? Hoje você não ama né?- essa resposta ele realmente queria saber...
_ Vamos dizer que minha sementinha, chamada amor, está dormindo! Ela teve seu papel e o fez muito bem... Daí ela se aposentou e decidiu descansar para, um dia, quem sabe. Germinar de novo...
_ Amar dói?
_ Depende...
_ Como assim?- agora ele não entendia mesmo, mais nada!
_ Assim, oras! Felicidade dói? Sofrer é bom? Querer é preciso? Solidão é necessária? -(fez cara de ironia pra ele e continuou...)- A resposta é bem clara: De-pen-de! Eu já sofri de tanta felicidade... Era uma dor estranha, dessas que você quer sentir! Então, felicidade dói e sofrer é bom! Eu também sei de uma coisa horrível: Que é preciso precisar, precisar e sem piedade, precisar de alguém... Mas daí, percebi que precisava mesmo de mim... Pra mim, querer é preciso e solidão, necessária! Amar dói também, mas é bom! A gente tem vontade de amar, amar e amar até o fim... E sempre espera o fim... Começa o amor, pensando no fim!- (silêncio! Pausa dramática!)- Infelizmente! Ninguém tem Dom pra felicidade eterna! Então, por melhor que esteja, por mais explosões que você tenha, a gente sabe. Sabe apenas por saber... Sabe e sofre! E dói muito... E passa e volta...
_Ah! Acho que te entendi agora...
_É difícil amar...
_Mas deve ser bom...
_Tem que ser eterno enquanto dure! - ela rio, sendo clichê citando Vinícius de Moraes...
_ Eu só me apaixonei... Acho que nunca amei... Será que eu sei amar? - envergonhado. Seu rosto corou rápido e seu coração pulou mais forte...
_ Sabe! Todo mundo sabe...
E continuou...
É só uma questão de aprendizagem!
_ No fundo é isso mesmo! E eu ainda estou aprendendo a viver... -(tomou de todas as suas forças)- Você me ajuda?- procurou a mão fria da menina...
_ Agora eu seguro a sua mão! Não quero te deixar a beira do nada do tamanho daquilo que te mostrei... Mas, quando você conseguir andar sozinho, quando você não mais se prender ao organizado e a essa mão que te guia, você irá sozinho... Sem medo!- caiu uma lágrima de seu olho esquerdo...
_ Você... Vai embora?- apertou firme a mão dela, com medo dela soltar e deixá-lo só...
_ Quando você estiver pronto! Quando não mais precisar de mim...
_ Eu não quero! Nunca se vá... Fique, sempre!- falou com um desespero no fundo da alma, deixando cair uma lágrima de seu olho direito...
Ela olhou para ele com seus olhos vagos e sonsos, olhos de quem sabe e não diz...
Apertou forte sua mão com a dele...
Beijou seu rosto de menino e, sentiu em seus lábios o gosto salgado dessa sua lágrima...
Era como beber sua alma!
Foi soltando devagar sua mão... E, enfim, disse:
_ Acho que me vou... Você já está pronto para amar alguém...

_______________( DESESPERO!)_____________________

sexta-feira, 27 de abril de 2007

O menino e a menina...

Podia ate ser uma historia de amor, mas preferi que fosse de aprendizagem...

O menino e a menina

Num dia desses, o menino encontrou a menina... Coisa do destino, sabe?

E eles se juntaram como pecas nunca antes separadas de um mesmo quebra cabeça...
O menino ficava meio bobo na frente da menina, que ele um dia quis chamar de sua, e, ela o preveniu para não fazê-lo:
_ Nasci para ser livre... Ser de alguém seria me prender a uma organização que desconheço...
E o menino (ainda) não entendeu o que a menina disse... Mas, mesmo assim, continuava ao se lado... Viviam coisas deles, e a menina lhe mostrava coisas que ele nuca tinha tido coragem para fazer... Cantar no meio de da multidão, dançar na chuva no meio de da praça lotada de gente com guarda-chuvas... Rir do tempo, dançar no carro, comer apenas quando se tinha vontade, não dormir, para aproveitar mais a vida...
Um dia, resolveram... Ou melhor, a menina resolveu, que iria ao cinema com o menino... E, ao final do filme, saíram correndo no meio do shopping center, dançaram nas escadas rolantes, andaram de mãos dadas, riram de doer à barriga! O menino desconhecia este tipo de alegria instantânea que a menina passou a lhe mostrar... E, ele ficou feliz... Simplesmente por ficar, sabe quando a felicidade e tão grande que explode? E explodiu no menino...
No dia seguinte, escreveu para ela:
_ Estou tão feliz, tão feliz que não me caibo... Acordei sentindo o sol da manha, coisa que ha muito tempo não sentia... Senti o vento me brindar com sua brisa e, num susto de felicidade, escrevi tudo a ti...
A menina sorriu. Para fazê-lo, teve uma leve nostalgia... Ela sabia qual era o seu principal Dom... Sabia que a partir de agora, tinha adentrado em seu jogo preferido... E, neste jogo, ela sempre vencia...
Respondeu em palavras vagas, como sempre fazia, com todos os outros meninos que já passaram em sua vida... Afinal, ela não nasceu para ser entendida, nasceu para ser interpretada...
Era definitivamente outono. Sua estação preferida... Ela adquiriu a alegria inusitante de viver de outonos... Isso para ela era uma habilidade desconcertante...
O menino era uma pessoa comum... Não que isso fosse uma coisa ruim, não era... Só que ele fazia parte da multidão... Vivia dentro do cubo... Nunca tinha visto o infinito, o imenso oceano que a menina via, ela estava do outro lado do cubo, talvez por isso, fosse tão diferente dele. A diferença entre os dois, era que ela era extremamente subjetiva, intransitiva e, ele era transitivo, direto! Completar frases e verbos era diferente para os dois, portanto, suas conversas tornavam facilmente entendidas de formas diferentes... Mas a menina nunca se preocupava em entender... Para ela, viver ultrapassava o entendimento! Então, muitas vezes, quando se falava, ela prestava atenção na luz que batia em seu rosto, no tom amarelado da parede, no barulho da rua, nas risadas irritantes das pessoas da mesa ao lado, de como os outros a olhavam, pensando que ela não via... Sentia com forca todo o instante! Fazer isso com alguém que esta disposto a se envolver, é no mínimo uma situação complicada...
MAS, ela sorriu e disse:
_ Eu gosto de você também...
E o menino teve outra explosão! Uma coisa louca, sabe? O que ele sentiu? Não sei dizer... Talvez, nem o menino saiba...
A menina tinha esse fascínio diferente. Não era como as outras meninas... Ela era bonita quando queria, elegante, simpática e, tinha um sorriso desconcertante... Talvez seu maior segredo fosse seu brilho estranho! Mas, como ninguém é perfeito, ela também não era! Ela tinha mania de viver de outono, de viver todos os momentos como se fossem os últimos... De sentir! Isso fazia seu egoísmo transparecer. Cultuar Dionísio, nem sempre é seguro!
A menina já tinha sentido em ti o leve toque do amor. Como todos nós, se machucou. E, este era, para ela, um segredo intocável. O menino percebia que a menina era muito diferente, isso o assustava às vezes... Num desses encontros, ele disse a ela:
_ Você é como a Monalisa. Não se sabe se ri se debocha... Não se sabe para onde olha... Não se sabe o que pensa... E, mesmo assim, ficando preso em todas essas suas contradições, você consegue ser extremamente fascinante! Você se basta!
A menina, com seus olhos confusos, respondeu:
_ Talvez este seja meu maior fascínio! Se fosse de outra forma, nada dessa aprendizagem sua seria possível... Me basto! Aprendi a viver comigo... Não sou uma garota parada na frente de um menino pedindo para que ele a ame. Sou mais...
_Você é como a Capitu, tem olhos de ressaca... Você é uma droga... Como o ópio! Você é viciante... E o pior é que não se pode te comprar! Você vem, vicia a gente neste teu “mundo de diversão”, nos mostra suas regras, nos dá liberdade... E, na hora que quer, se vai! Some... Não posso te pegar, nem te comprar... Tenho que me contentar com aquilo que você me dá! Isso é pouco pra mim... E injusto!
_Menino, não se trata disso... Trata-se de abrir os olhos e ver... Posso ser viciante! Sou... Simplesmente! Seja também... Nunca te disse, nem te direi quem sou... E, ao mesmo tempo, posso ser quem você quiser que eu seja! Posso ser Monalisa, com seu sorriso fascinante... Posso ser Capitu com seus olhos de ressaca... Posso ser Sara, Carla, Priscila, a Maria e a Madalena... Posso ser mil personagens em apenas um ser... Isto te assusta?
_A questão é saber se estou preparado para conhecer uma nova pessoa todo dia... O segredo de estar com alguém é o descobrimento e, estar com você, seria tentar te ver realmente e, nunca conseguir... Não nasci para andar no escuro!
_Isso é estar deste lado do Cubo. Pode haver aqui, um oceano de distancia... Eu quis te mostrar como é nadar em um mar aberto... Do meu jeito! O que quero que saiba agora, é que muitas pessoas passaram por minha vida. Algumas rápido demais para se aprender algo... Outras foram rapidamente esquecidas... Existiram aquelas que levaram um pouquinho de mim... Outras que deixaram um pouco delas e, existem aquelas que, mesmo passando rápido, deixaram saudades... Eu, para ti, gostaria de ser uma mistura de todas elas... Deixar para ti, um pouco de mim, levar um pouco de você... Mesmo passando rápido, gostaria ainda assim de ser lembrada... Em nossos melhores momentos... Quero que você sorria quando eu passar por entre suas lembranças... Quero que guarde de mim, a explosão de felicidade! E, toda vez que você voltar a me ler, me leia com os olhos de uma criança que, pela primeira vez lê um conto de fadas... PURAMENTE! Agora, pode ir... Salve-se de mim, antes que te vicie de tal maneira que você não se queira curar...

E, o menino se foi...

Mas, mesmo depois de tanto tempo, um dia se pegou lendo aquela menina em suas lembranças...
É tão estranho...
Você se foi cedo demais...
(...)!
Eu aprendi a Ter tudo o que eu sempre quis...
Mas nunca aprendi a te perder...
Lembro de tudo o que passamos juntos... E eu sei...
Você esta bem agora...
Mas, naquela nossa historia... Nosso outono acabou cedo demais...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Manhã de Outono

(Ler ao som de "O velho e o moço- los hermanos")

Era uma manhã gostosa de Outono. As folhas começaram a cair, e nosso jardim estava totalmente tomado por elas...
Na grama verde do quintal, ela dançava descalça, com os braços abertos, tentando sentir as folhas que lhe caíam ao rosto...
Usava um lindo vestido branco, até o chão, e estava descalça...
Seus olhos acompanhavam as nuvens do céu, e seus dedos finos abriam e fechavam como se estourasse bolhas de sabão...
Meus olhos miúdos, não paravam de olhar para ela... Era difícil disfarçar tremendo interesse por aqueles lindos e longos cabelos ruivos...
Ela parecia um anjo, uma boneca, uma forma tão pequena de perfeição...
E eu a olhava!
Gostava de quando ela mordia de leve o lábio inferior... E de quando ela caia ao chão de tanto rodar...
Mas isso acontecia muito raramente...
Na maioria do tempo, ela sorria...
Seu rosto branco ficava ainda mais branco com a luz clara da manhã, e seus olhos castanhos ganhavam um toque da cor mel...
Seus cabelos ruivos estavam levemente embaraçados hoje, dava pra notar alguns nozinhos em suas pontas...
Ela tinha uma flor lilás em seu cabelo!
E eu a observava por entre os arbustos, para que ninguém percebesse meu interesse naquela linda cena...
Deitava na grama do jardim e me escondia atrás dor arbustos verdes de mamãe. Abria uma fresta com minhas mãos e assim, olhava!
Poderia passar horas deitado ali a observando rolar...
Poderia guardar aquela imagem durante minha vida inteira!
E abria e fechava meus olhos, para tentar armazenar mais perfeitamente aquela cena em minhas lembranças...
E assim seguiu o outono inteiro. Roubando sua intimidade pra mim, e fazendo o dela o meu...
Mesmo que em sonhos...
Mesmo que somente em segredo...

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Sobre o tempo

SOBRE O TEMPO...

“Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria, o apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e, fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe! O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta...”

Conto sobre o tempo...

Trindade não tinha objetivos concretos, vivia o hoje. Apenas vivia. Vivia cada dia sem se importar com o próximo, como se o outro dia, fosse uma coisa tão longe a acontecer e, o instante já fosse o mais sublime de todos... Não se preocupava em como sua vida seria dali a alguns anos. “Para que se preocupar se, todos os instantes já me São dados quando preciso?
Cada segundo era por ela vivido e aproveitado. Nada de futuras preocupações, nada de organizar um futuro, nada de esperar algo sobre o Tempo.
Também ela não se prendia muito ao passado, dizia que tinha sido algo que já ocorreu e, por Ter ocorrido, já estava morto!
Não tinha muitos ganhos. Nada lhe era muito importante. Tinha o que precisava comida, bebida afazeres, nada de rotina... Trabalhava quando queria, dormia quando queria, comia quando sentia vontade. Era dona de todos os míseros instantes e, nunca “vendia” seu tempo. Por isso não trabalhava para os outros. Trabalhava por ela...
Se ela era feliz? E como! Em sua casa não havia relógios, não havia agendas, não havia calendários e, muito menos preocupação com o “tempo”!
Degustava assim cada mísero e detestável minuto. E cultivava em si, também um vazio silencio da eternidade da espécie. Vivia, às vezes, muitos minutos em um só minuto... “para não se acostumar com ele”
Trindade acreditava que na eternidade não havia tempo. E por isso se dava o direito de se Ter essa imobilidade eterna. “Noite e dia São contrários porque São o tempo e o tempo não se divide. Hoje é hoje! E, amanha, terei de novo um hoje”
Simplesmente!
Todos os moradores da vila do tempo perdido estranhavam o comportamento inescrupuloso de Trindade. “como ela, poderia desafiar de tal forma o senhor tempo?” Era vista como uma bruxa, uma pessoa sem alma, relativamente inferior. Ninguém na Vila lhe dava muita atenção e, todos tratavam de seguir rigidamente suas rotinas impostas pelo senhor Tempo. Os moradores da vila do tempo perdido trabalhavam na fábrica de horas. Seguiam a risca uma rotina que basicamente resumia-se em acordar, tomar o café da manha com a família, ir à fábrica de horas, trabalharem regularmente 8 horas, voltar para casa, dormir e... Repetir tudo no dia seguinte. A eles foram dados um contrato. Todos queriam ao final deles serem “SENHORES DE SEU PRÓPRIO TEMPO”, Mas, para conseguirem almejar tal fato, antes teriam que vender o seu tempo para o dono da fábrica, o mais poderoso morador da vila do tempo perdido, o “senhor Tempo”. Ela era dono da fábrica de horas e, ao contratar os moradores da vila, impunha certas regras de contrato. Não se poderia nunca em hipótese alguma argumentar sobre o Tempo e, teriam que sempre seguir meticulosamente os horários impostos por ele. Desta forma, se trabalhassem direito fazendo as horas, no futuro seriam recompensados sendo, com ele, senhores de seu tempo.
O que os morados da vila do tempo perdido não percebiam, é que, o senhor Tempo na realidade, roubava deles o melhor tempo de suas vidas, para, mais tarde, quando já não conseguisse fazer horas no tempo correto, devolver-lhes esse tal “tempo perdido”, porém, eles já estariam velhos para se importar ou serem capazes de ver o quanto foram roubados! Apenas uma pessoa na vila era realmente uma ameaça ao senhor Tempo: Trindade!
Nunca o senhor tempo conseguiu convencê-la a trabalhar para ele, mesmo dando promessas de um futuro maravilhoso, com instabilidade e conforto. Trindade nem gostava de falar sobre o tempo, achava-o arrogante, mesquinho e desonesto. Via que na vila, todos eram “escravos do tempo” e por isso não conseguiam ver a verdade por trás dele. Por mais que passasse muitas dificuldades, não venderia nunca seus encantadores minutos, suas alegres horas ou seus míseros segundos. Trindade concluía que, seu bem mais precioso era esse e, por isso, não iria vendê-lo, de maneira alguma ao “senhor Tempo”.
Os moradores da vila foram proibidos de se relacionarem com Trindade, pois ela possuía uma doença perigosa e contagiosa, que iria contaminá-los se falassem com ela. A essa doença foi dada o nome de vida! Trindade não se importava com isso. Mesmo que tivesse a tal doença vida. Pelo menos a ela não afetava viver. Ate gostava de sentir os sintomas da doença. Adorava, entre todos os sintomas o da liberdade. Sintoma talvez mais preocupante da tal doença, pois como ela, uma simples mortal poderia ser dona de tamanha liberdade?
Trindade percebeu que os moradores da vila envelheciam rápido, pois até os míseros segundos de suas vidas eram tomados pelo senhor tempo. Viviam sempre no tempo futuro, preocupados com o que o amanha iria conceber-lhes. Faziam sempre promessas de futuro e, a eles foram vendidos a esperança. Todos na vila tinham esperança. Principalmente a de um futuro melhor. Esse tipo de esperança era sempre a mais vendida em todas as lojas. Sempre que o senhor tempo queria parabenizar algum empregado pelo esforço, dava-lhe uma esperança de futuro melhor. O tempo presente era quase esquecido. O passado era lembrado às vezes, porém, o futuro... O futuro era sempre o mais procurado de todos os tempos. E, o senhor tempo ia ficando cada vez mais rico cada vez mais jovem por roubar a juventude de seus funcionários... Dava a eles quando já não o servia direito, o seu tempo envelhecido, enrugado e fraco.
Um dia, Trindade cruzou com o senhor tempo e, ambos sentiram uma vontade louca de trocar perguntas! Trindade engolia sempre as perguntas. Tinha medo das respostas e, de ser tomada por toda uma verdade que não conseguiria entender. De ser bruscamente morta por ela. MAS, sua coragem veio à tona e, sem que pudesse segurar, vomitou sobre o senhor tempo sua primeira pergunta:
Afinal, o que é que você é?
EU SOU A FORMA QUE NINGUEM ME DEU. O REAL QUE NINGUEM QUIS. UM REFLEXO DEFORMADO DO QUE NINGUEM DESEJA. SOU O ESPELHO E A SUA ALMA! SOU SUA PERFEICAO DESEJADA EM ALGO INDESEJADO... SOU SEU MEDO DO ACASO, SEU MEDO DE FELECIDADE, SOU TUDO O QUE NINGUEM QUISER... ISSO TE ASSUSTA?
Posso viver toda minha vida sem me preocupar com você?
NINGUEM SE PREOCUPA COM O TEMPO. POR ISSO NÃO ME PODEM PEGAR... SOU INDIVISIVEL E, MESMO ASSIM ME DESFACO POR INTEIRO PARA LHES AGRADAR... CUIDO DAQUILO QUE TEME FAZER E AINDA ASSIM, VOCE ME DETESTA! QUEM ESTE ERRADO, ENTAO?NUNCA QUIS CONTROLAR NINGUEM! NINGUEM ME RECRIOU E ME DEU VIDA E, AGORA NÃO POSSO DEIXAR DE SER. NADA QUE FACAS PODERA ME RECRIAR. FUI POR TODOS ESCOLHIDO E, ESSENCIALIZEI EM TODOS MINHA FORMA. SOU MUITO MAIS QUE HOJE. SEM A IDEIA ILUSORIA DE NÃO EXISTIR... ACOSTUME-SE COM O ESPACO QUE OCUPO E, ARREPENDA-SE DAS BESTEIRAS QUE FEZ ONTEM...
Se nada posso fazer para que você não exista, porque eu posso juntar todo o resto do dia para me libertar? Meu mundo inteiro se fez sem ti! Não preciso me entregar as suas vontades. Posso ainda ser eu!
Não quero viver contigo e, se for para viver sem ser naquilo que acredito...
Quero que saibas... Assim vivi, assim morri em minha vida,
Calma sob os murmúrios mudos do céu.
Fiel aquilo em que minha palavra deu.
A idéia tida...
E se for para fugir,
Esquece, pois me acabo aqui.




Só compreendemos o tempo quando ele se materializa se nomeia, em uma duração qualquer, só compreendemos a forma QUANDO ela se determina... O tempo, a forma, as coisas... Só as tornam perceptíveis quando encontram algo... Ë lógico que ALGO em si não conheça o tempo e esse espaço sobre algo e o tempo sejam extemporâneo e imenso, anterior ao que hoje especializamos se assim podemos falar...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Sobre a vida e os mofos

Estou lendo o livro “Morangos Mofados”, de caio Fernando Abreu, e gosto de ler um conto por dia, para me dar tempo de pensar sobre o que li. Às vezes, os contos adentram minha mente e se espalham... Quando chega a noite e me deito pra dormir, eles misturam-se com os acontecimentos do cotidiano. O carro branco que quase me atropelou, a minha camiseta velha do Elvis, a música chata da MTV... E esta mistura, transforma-se em sonhos bizarros, que não sei como o meu inconsciente constrói.
Hoje li um conto gostoso, que me fez até sentir o cheiro do vômito do autor. O conto tinha cheiro de mofo velho com cigarros, uma mistura fina de dor e esperança, escondida por entre as finas frestas da janela...
Pude ver seus pezinhos gordos e a volta milimetricamente desenhada dele. O vestido amarelo esvoaçante, com um leve tom de azul celeste ao meio, com um lenço amarrado sobre a cintura e cabelos quase marrons de quem os vestia...
Bem, agora volto pra minha mesa e minha realidade.
Uma mesa grande, com uma lata cheia de canetas velhas e gastas, um telefone ao lado esquerdo e uma folha com todas as pautas do mês...
Meus olhos se cansam de olhar para a tela do computador, sem óculos e sem gosto...
E assim vivo os dias, misturando a minha doce vida de prisioneira às delicadezas escondidas por entre folhas de papéis...

O que eu já fiz sem você

o que eu já fiz sem você!!!!!

Já tentei te esquecer,
Já me tranquei no banheiro e chorei,
Já quis desistir de viver numa noite inteira e acordei no dia seguinte...
Já bebi muito para tentar afogar a minha dor e o que consegui
Foi uma tremenda enxaqueca
Já tremi de frio uma noite inteira por não querer voltar para casa,
Já rasguei suas fotos,
Já li e reli suas cartas,
Já cansei de ouvir aquela musica ,
Já me senti sozinha mesmo estando acompanhada....
Já achei o mundo inteiro sem graça e decidi muda-lo!
Já sai para procurar o seu abraço, e não encontrei.
Já senti seu beijo mesmo sem beija-lo
Já fechei os meus olhos e vi você dizer te amo!
Já disse que não me importava e que com você eu estava bem melhor...
Já sai de balada e beijei, mas todos os beijos não tinham o gosto de seus beijos.
Já jurei que estava maravilhosamente bem para o seu melhor amigo...
Já ri
Já dancei, mesmo sem ritmo,
Já me apaixonei e no instante seguinte percebi que não era real.
Já sai linda para me auto-afirmar,
Já fiz alguém se apaixonar por mim e depois me arrependi...
Já dormi e sonhei estar em seus braços e quando acordei fiquei decepcionada!
Já sai sozinha,
Já fumei um cigarro (vários),
Já chorei tantas vezes a ponto de perder o fôlego e acordar com o rosto desfigurado...
Já tomei banho a luz de velas e pensei em ti...
Já fui ao cinema e me emocionei com o filme por pensar em
Nos o tempo todo,
Já fiquei com medo ao saber que você tinha se apaixonado novamente
E então ,desisti de ti....
Já fiz tudo isso sem você , ate perceber que preferiria não Ter feito nada disso,
Só para continuar com você ao meu lado.
Que pena da louca que eu fui.

Cristina Matsuoka
Agosto 2003.

ps: postei este porque achei aqui... Velho, mas gosto!

sexta-feira, 20 de abril de 2007

CARTAS A NINGUÉM...

CARTAS A NINGUÉM...

“Eu escondo de mim o meu fracasso. Desisto. E tristemente coleciono frases de amor. Em português é "eu te amo”. Em francês-“Je t’ame”. Em inglês-”I love you”. Em italiano-“io t’amo”. Em espanhol-”yo te quiero”. Em alemão-” Ich liebe disch”, está certo? Logo eu, a mal amada. A grande decepcionada, a que cada noite experimenta a doçura da morte.”.

Clarice Lispector


Ninguém:

Não sei porque escrevo a ti.
Talvez por querer me salvar. Já faz algum tempo em quem me perdi de mim. Simplesmente não encontrei palavras...
Essas existem por si. São instantâneas e brotam conforme as transformo em letras. Em cada palavra aqui, pulsa um coração. Cada palavra é viva. Esse coração simplesmente é!
Sim. Quero que você me leia. Só não procure me entender. Complexidade sempre foi o meu melhor ato. Sou uma atriz! Faço minha entrada, digo minha fala e me vou. Às vezes me improviso! Não gosto de repetir espetáculos e por isso fujo do cotidiano. Meu maior medo...
Não sei viver sem ser o que for sendo! E então me jogo ao acaso. Realidade? E se a realidade for que nada existiu? Quem sabe nada me aconteceu? O instante é feito por mim , ou se faz sozinho?
Nunca te disse nem te direi quem sou! Sou implícita! Talvez um personagem de mim...
Meu segredo intocável, perigoso e inviolável! SEMPRE TRÊS QUALIDADES...
Sei que “ninguém” foge quando tudo começa a ficar bom... ”Ninguém” desconfia!
FALANDO SÉRIO... O QUE É QUE EU SOU?

Eu sou a forma que “ninguém” me deu. O real que “ninguém” quis. Um reflexo deformado do que “ninguém” deseja. Sou seu espelho e o reflexo de sua rosa! Sou sua perfeição desejada em alguém inesperado e indesejado! Sou seu medo do acaso, seu medo de felicidade, sou mil personagens em apenas um ser... Isso te assusta?

“Ninguém”sentiu em ti uma vibração perigosa de prazer e de simplicidade... Fugiu de sensações e prendeu-se num sentimento morto e doentio! Forjou o amor e seu fogo do inferno...
“Ninguém” te deu o direito maior de errar...
“Ninguém” percebeu que só seria feliz forjando sua felicidade dentro de sua infelicidade... O que escrevo a “ninguém” são puras inequações matemáticas irresolvíveis...
“Ninguém” não consegue ser livre. Fica com uma tal nostalgia que se persegue. Prende-se ao organizado. Tem medo de recriar! Eu sou a “ninguém” sua loucura de perfeição! Aquilo que “ninguém” esculpiu, deu vida e... Quebrou! Não estava pronto para ter sua mais bela obra completada. Desistiu de voltar a moldar... E , assim, abandonou a alma!
“Ninguém” vive sua vida imaginaria , que é viver do passado ou para o futuro. Vive a esperança . O presente te traz dores! “Ninguém”não tem dom para a felicidade!
DETESTO-ME! Simplesmente! Sei de tudo antes de acontecer e isso me cansa...
Gosto do imprevisível. Sou subjetiva. Talvez precise me purificar de mim. Deixar os roteiros, saber o release e improvisar!
“Ninguém” não mais me é. Porém ele nunca some! Dei-te a liberdade e “ninguém” me rodeia...Sombras?

Acabo sem despedidas...

Cristina Matsuoka

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Nove e quinze

Depois de um tempo morando no mesmo lugar, sabendo onde todas as coisas estão você se esquece de prestar atenção a sua volta. É como se alguma coisa tornasse o ambiente tão infinitamente prático e seguro, que não importa se as coisas realmente mudaram sem você perceber...
Ontem aconteceu.
Havia um relógio silencioso. Ganhado de mamãe para que eu nunca perdesse a hora. Logo eu, que nunca gostara de pensar em tempo, e sempre me atrasava para compromissos...
Coloquei-o no alto da parede, onde fosse à primeira coisa que visse ao acordar. E ele ali ficou. Fez parte, adentrou-se!
Há dois anos, parou de funcionar. E não havia quem conseguisse fazê-lo voltar a contar os segundos, os minutos, e finalmente, as horas!
Tentei de tudo. Troquei pilha, mexi em seus ponteiros, troquei de lugar, sacudi... E nada. Esforços em vão!
Decidi deixa-lo no mesmo lugar, com o horário que ele escolhera para morrer. Nove e quinze!
Portanto, sempre que algum amigo fosse para minha casa, o tempo parava. Era sempre nove e quinze!
Enfim, aconteceu...
Estava eu, sentada em minha cama, ao telefone, quando cresço o olho para o relógio e... Ele está girando... Olhei mais uma vez... Rodava! E marcava exatamente o horário que era naquele exato momento...
Assustei-me!
Será que alguém havia entrado em minha casa somente para fazê-lo ressuscitar?
Como voltara a vida? E na hora exata dos outros tantos relógios que espalhados por minha casa estão?
Ou seria eu que estivera enganada todo este tempo?
Quanto tempo existe entre nove e quinze?

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Houve uma vez...

Houve um dia que tive um amigo bicho.
Um amigo gente. um amigo meio bicho e meio gente!
Na verdade, ele tinha qualquer coisa mágica...
Brotava uma energia boa, sabe?Ele te fazia feliz somente com um abraço!Era tão bom!!!
Mas eu era imatura, apesar de me achar grande...
Eu era boba, e tinha qualquer coisa que me fazia agir assim...
Humm...
Eu o fazia sorrir as vezes!
Nos divertíamos tanto!!!
Fizemos muitas coisas em poucos dias...
E parecia que tudo o que tínhamos, duraria pra sempre...

Mas...

Houve um dia que algo estranho aconteceu. Um coração bateu fora da sintonia do outro... Uma lágrima escorreu... Uma palavra não foi dita...
E quando estas coisas acontecem, sempre um coração para de se comunicar com o outro daquele jeito mágico...
Acho que a vaidade atrapalhou!
Havia histórias também. Algumas coisa que nos fizeram chegar até ali...
Coisas de caminhos traçados, entrelaçados, embutidos...
Não dava pra saber naquele momento, nem pra explicar!
Era tanta coisa acontecendo,
Tantas numerações trocadas...
Tantos papéis rasgados,
E outras histórias mal resolvidas...

E foi assim...

Houve uma noite, que ríamos muito, e nossas almas estavam brilhantes...
E parecia que flutuávamos entre tantas nuvens!!!
Até bolhas translúcidas podia se ver.

E depois, aconteceu...

Ao amanhecer deste dia, ele se transformou numa ave e levantou vôo...
Transformou-se eu um Uirapuru...
E se foi...
Deixando um aperto no peito...
e levando uma grande parte minha com ele...


Houve noites que olhei para o céu.
Houve noites, que rezei por ele.
Houve noites em que o senti ao meu lado...

Houve uma vez!

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Entre ela e ele, sempre existe uma reticências...

Era uma tarde quente de outono. Marcaram de se encontrar. Ela tinha sido tocada por uma leve nostalgia... Lembranças de seus melhores momentos.
Uma leve vertigem...
Ele chegou, Sentou-se ao seu lado direito. Estava com o rosto sério. Como o de quem sabe o que está pra acontecer.
Ela havia jogado sua última carta, e talvez, dali, iria embora pra sempre...
Ele: Oi.
Ela: Gostou?- mexeu sua xícara de café.
Ele: Não. -Sério.
Ela: desculpe, então detestou...
Ele: Não. – rio de leve...
Ela: -sem entender- Como?
Ele:- Olhou para ela, abaixou os olhos, logo em seguida, sorriu ironicamente, ajeitou a haste dos óculos que lhe caíam ao rosto...
Ela: Do que mais gostou?
Ele: Da parte que você diz: “complexidade sempre foi o meu melhor ato!”
Ela: Ah?
Ele: Achei preciso!
(...)
Os dois sorriram sem jeito... Ele tocou suas mãos quentes e disse:
Ele: Ainda assim, será sempre minha menina!