sexta-feira, 27 de abril de 2007

O menino e a menina...

Podia ate ser uma historia de amor, mas preferi que fosse de aprendizagem...

O menino e a menina

Num dia desses, o menino encontrou a menina... Coisa do destino, sabe?

E eles se juntaram como pecas nunca antes separadas de um mesmo quebra cabeça...
O menino ficava meio bobo na frente da menina, que ele um dia quis chamar de sua, e, ela o preveniu para não fazê-lo:
_ Nasci para ser livre... Ser de alguém seria me prender a uma organização que desconheço...
E o menino (ainda) não entendeu o que a menina disse... Mas, mesmo assim, continuava ao se lado... Viviam coisas deles, e a menina lhe mostrava coisas que ele nuca tinha tido coragem para fazer... Cantar no meio de da multidão, dançar na chuva no meio de da praça lotada de gente com guarda-chuvas... Rir do tempo, dançar no carro, comer apenas quando se tinha vontade, não dormir, para aproveitar mais a vida...
Um dia, resolveram... Ou melhor, a menina resolveu, que iria ao cinema com o menino... E, ao final do filme, saíram correndo no meio do shopping center, dançaram nas escadas rolantes, andaram de mãos dadas, riram de doer à barriga! O menino desconhecia este tipo de alegria instantânea que a menina passou a lhe mostrar... E, ele ficou feliz... Simplesmente por ficar, sabe quando a felicidade e tão grande que explode? E explodiu no menino...
No dia seguinte, escreveu para ela:
_ Estou tão feliz, tão feliz que não me caibo... Acordei sentindo o sol da manha, coisa que ha muito tempo não sentia... Senti o vento me brindar com sua brisa e, num susto de felicidade, escrevi tudo a ti...
A menina sorriu. Para fazê-lo, teve uma leve nostalgia... Ela sabia qual era o seu principal Dom... Sabia que a partir de agora, tinha adentrado em seu jogo preferido... E, neste jogo, ela sempre vencia...
Respondeu em palavras vagas, como sempre fazia, com todos os outros meninos que já passaram em sua vida... Afinal, ela não nasceu para ser entendida, nasceu para ser interpretada...
Era definitivamente outono. Sua estação preferida... Ela adquiriu a alegria inusitante de viver de outonos... Isso para ela era uma habilidade desconcertante...
O menino era uma pessoa comum... Não que isso fosse uma coisa ruim, não era... Só que ele fazia parte da multidão... Vivia dentro do cubo... Nunca tinha visto o infinito, o imenso oceano que a menina via, ela estava do outro lado do cubo, talvez por isso, fosse tão diferente dele. A diferença entre os dois, era que ela era extremamente subjetiva, intransitiva e, ele era transitivo, direto! Completar frases e verbos era diferente para os dois, portanto, suas conversas tornavam facilmente entendidas de formas diferentes... Mas a menina nunca se preocupava em entender... Para ela, viver ultrapassava o entendimento! Então, muitas vezes, quando se falava, ela prestava atenção na luz que batia em seu rosto, no tom amarelado da parede, no barulho da rua, nas risadas irritantes das pessoas da mesa ao lado, de como os outros a olhavam, pensando que ela não via... Sentia com forca todo o instante! Fazer isso com alguém que esta disposto a se envolver, é no mínimo uma situação complicada...
MAS, ela sorriu e disse:
_ Eu gosto de você também...
E o menino teve outra explosão! Uma coisa louca, sabe? O que ele sentiu? Não sei dizer... Talvez, nem o menino saiba...
A menina tinha esse fascínio diferente. Não era como as outras meninas... Ela era bonita quando queria, elegante, simpática e, tinha um sorriso desconcertante... Talvez seu maior segredo fosse seu brilho estranho! Mas, como ninguém é perfeito, ela também não era! Ela tinha mania de viver de outono, de viver todos os momentos como se fossem os últimos... De sentir! Isso fazia seu egoísmo transparecer. Cultuar Dionísio, nem sempre é seguro!
A menina já tinha sentido em ti o leve toque do amor. Como todos nós, se machucou. E, este era, para ela, um segredo intocável. O menino percebia que a menina era muito diferente, isso o assustava às vezes... Num desses encontros, ele disse a ela:
_ Você é como a Monalisa. Não se sabe se ri se debocha... Não se sabe para onde olha... Não se sabe o que pensa... E, mesmo assim, ficando preso em todas essas suas contradições, você consegue ser extremamente fascinante! Você se basta!
A menina, com seus olhos confusos, respondeu:
_ Talvez este seja meu maior fascínio! Se fosse de outra forma, nada dessa aprendizagem sua seria possível... Me basto! Aprendi a viver comigo... Não sou uma garota parada na frente de um menino pedindo para que ele a ame. Sou mais...
_Você é como a Capitu, tem olhos de ressaca... Você é uma droga... Como o ópio! Você é viciante... E o pior é que não se pode te comprar! Você vem, vicia a gente neste teu “mundo de diversão”, nos mostra suas regras, nos dá liberdade... E, na hora que quer, se vai! Some... Não posso te pegar, nem te comprar... Tenho que me contentar com aquilo que você me dá! Isso é pouco pra mim... E injusto!
_Menino, não se trata disso... Trata-se de abrir os olhos e ver... Posso ser viciante! Sou... Simplesmente! Seja também... Nunca te disse, nem te direi quem sou... E, ao mesmo tempo, posso ser quem você quiser que eu seja! Posso ser Monalisa, com seu sorriso fascinante... Posso ser Capitu com seus olhos de ressaca... Posso ser Sara, Carla, Priscila, a Maria e a Madalena... Posso ser mil personagens em apenas um ser... Isto te assusta?
_A questão é saber se estou preparado para conhecer uma nova pessoa todo dia... O segredo de estar com alguém é o descobrimento e, estar com você, seria tentar te ver realmente e, nunca conseguir... Não nasci para andar no escuro!
_Isso é estar deste lado do Cubo. Pode haver aqui, um oceano de distancia... Eu quis te mostrar como é nadar em um mar aberto... Do meu jeito! O que quero que saiba agora, é que muitas pessoas passaram por minha vida. Algumas rápido demais para se aprender algo... Outras foram rapidamente esquecidas... Existiram aquelas que levaram um pouquinho de mim... Outras que deixaram um pouco delas e, existem aquelas que, mesmo passando rápido, deixaram saudades... Eu, para ti, gostaria de ser uma mistura de todas elas... Deixar para ti, um pouco de mim, levar um pouco de você... Mesmo passando rápido, gostaria ainda assim de ser lembrada... Em nossos melhores momentos... Quero que você sorria quando eu passar por entre suas lembranças... Quero que guarde de mim, a explosão de felicidade! E, toda vez que você voltar a me ler, me leia com os olhos de uma criança que, pela primeira vez lê um conto de fadas... PURAMENTE! Agora, pode ir... Salve-se de mim, antes que te vicie de tal maneira que você não se queira curar...

E, o menino se foi...

Mas, mesmo depois de tanto tempo, um dia se pegou lendo aquela menina em suas lembranças...
É tão estranho...
Você se foi cedo demais...
(...)!
Eu aprendi a Ter tudo o que eu sempre quis...
Mas nunca aprendi a te perder...
Lembro de tudo o que passamos juntos... E eu sei...
Você esta bem agora...
Mas, naquela nossa historia... Nosso outono acabou cedo demais...

4 comentários:

Des[Construíram] disse...

Sabe, adoro outonos! Não me pergunte por que. Talvez uma lembrança reminiscente ou um pressagio de um outono que virá. Só sei que adoro.
Adorei a menção "ela tinha mania de viver de outono...". Adorei isso! Como simpatizei com todo o texto e as diferenças e vícios de um pelo outro - cada qual do seu jeito.
Belo!
Fica na paz.

Anônimo disse...

Nossa, amei! Achei tudo interessante, principalmente o trecho: "A diferença entre os dois, era que ela era extremamente subjetiva, intransitiva e, ele era transitivo, direto!" Para mim, falou tudo aí!

Anônimo disse...

Não gosto de outono como no texto anterior, mas definitivamente estou comecando a gostar de outono, o jeito que voce descreve cada personagem é perfeito.

P. Florindo disse...

Ela é feliz. É isso que importa. Mas seus mistérios assustam, fascinam. É estranho. Ela me lembrou a Luna Lovegood.