sábado, 23 de junho de 2007

Um café!



Ela entrou no café.
Ele estava logo atrás dela.
Andou até o balcão e pediu:
Ela: Um café com espuma de leite, por favor.
Gostava de café bem forte com espuma de leite. Somente para dar uma certa cremosidade. Adoçou pouco, para que ele ficasse amargo. Seu jeito de tomar café...
A moça o fez com um certo capricho. Ela pegou sua xícara e foi sentar-se na última mesa, no canto onde as paredes se intersectavam. Havia uma luz bem em cima da mesa. Um canto penunbrento, apenas com esta luz. As paredes do café eram amareladas, e as cadeiras de madeira, davam uma certa classe ao local.
Ele sentou-se em sua frente. Não havia pedido um café. Não havia diálogo entre os dois. Ele apenas a seguia, ela apenas tomava seu café.
Pegou um pacotinho de adoçante. Despejou em sua xícara e mexeu devagar. Ele olhava todos os movimentos que ela fazia... Lambeu a colher e começou a tomá-lo.
Ela olhava para ele com o rosto sério. Olhar duro e com um ar de desprezo. Ele tentava disfarçar...Olhava pra ela, desviava o olhar, ensaiava um sorriso bobo, e voltava o olhar...
Ela mantinha-se com o olhar direto em seus olhos. Esses, por sua vez, brilhavam e esbanjavam um certo ódio, coisa que ela detestava...
Estava um clima sujo. Nenhuma palavra entre eles. Os múrmuros das outras pessoas do café chegavam a adentrar a mente dos dois que tristemente se olhavam...
Era um olhar de romance rasgado. De mágoa retida, de palavras não ditas, de palavras desperdiçadas, de...Desespero!
Ela segurava sua xícara na altura de sua boca, mas sem encostar nela, com os dois cotovelos sobre a mesa, e olhava...
Ele agora, com medo de manter o olhar, desperçava. Estava nervoso, mexia o celular entre suas mãos, como se não soubesse o que fazer. Podia sair dali correndo, dizer a ela tudo o que estava engasgado, mas não o fez. Manteve-se ali, em sua companhia, enquanto ela tomava seu café com aquele olhar de quem culpa alguém...
Tomou o último gole do café. Colocou calmamente a xícara em seu pirex. Levantou-se e saiu, sem dizer nada...
Ele levantou e foi atrás dela. Nenhuma palavra!
Ela andava com seu andar marcado. estava com um turbante prateado em seus cabelos, ombros a mostra e um sapato novo. Segurava sua bolsa carteira com as duas mãos e mantinha seu olhar a frente. Diminuiu o passo. Ele diminuiu também e manteve-se ao lado dela. Haviam pétalas de rosas vermelhas espalhadas na calçada. Dois corações amargurados e um silêncio cortante.
Caminharam até seu apartamento. Ela olhou para o chão e pensou:
"De nada mais me importa. Só sei que estou de sapatos novos!"

Sapato Novo
Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo

(...) – bem, como vai você? levo assim, calado
de lado do que sonhei um dia
como se a alegria recolhesse a mão
pra não me alcançar
poderia até pensar que foi tudo sonho (2x)
ponho meu sapato novo e vou passearsozinho, como der, eu vou até a beira
besteira qualquer nem choro mais
só levo a saudade morena
e é tudo que vale a pena

ps: no video, sou aquela loira com vestido vermelho que faz bolhas de sabão.

Só isso!

"lying is the most fun a person can have without taking their clothes off"