SOBRE O TEMPO...
“Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria, o apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e, fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe! O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta...”
Conto sobre o tempo...
Trindade não tinha objetivos concretos, vivia o hoje. Apenas vivia. Vivia cada dia sem se importar com o próximo, como se o outro dia, fosse uma coisa tão longe a acontecer e, o instante já fosse o mais sublime de todos... Não se preocupava em como sua vida seria dali a alguns anos. “Para que se preocupar se, todos os instantes já me São dados quando preciso?
Cada segundo era por ela vivido e aproveitado. Nada de futuras preocupações, nada de organizar um futuro, nada de esperar algo sobre o Tempo.
Também ela não se prendia muito ao passado, dizia que tinha sido algo que já ocorreu e, por Ter ocorrido, já estava morto!
Não tinha muitos ganhos. Nada lhe era muito importante. Tinha o que precisava comida, bebida afazeres, nada de rotina... Trabalhava quando queria, dormia quando queria, comia quando sentia vontade. Era dona de todos os míseros instantes e, nunca “vendia” seu tempo. Por isso não trabalhava para os outros. Trabalhava por ela...
Se ela era feliz? E como! Em sua casa não havia relógios, não havia agendas, não havia calendários e, muito menos preocupação com o “tempo”!
Degustava assim cada mísero e detestável minuto. E cultivava em si, também um vazio silencio da eternidade da espécie. Vivia, às vezes, muitos minutos em um só minuto... “para não se acostumar com ele”
Trindade acreditava que na eternidade não havia tempo. E por isso se dava o direito de se Ter essa imobilidade eterna. “Noite e dia São contrários porque São o tempo e o tempo não se divide. Hoje é hoje! E, amanha, terei de novo um hoje”
Simplesmente!
Todos os moradores da vila do tempo perdido estranhavam o comportamento inescrupuloso de Trindade. “como ela, poderia desafiar de tal forma o senhor tempo?” Era vista como uma bruxa, uma pessoa sem alma, relativamente inferior. Ninguém na Vila lhe dava muita atenção e, todos tratavam de seguir rigidamente suas rotinas impostas pelo senhor Tempo. Os moradores da vila do tempo perdido trabalhavam na fábrica de horas. Seguiam a risca uma rotina que basicamente resumia-se em acordar, tomar o café da manha com a família, ir à fábrica de horas, trabalharem regularmente 8 horas, voltar para casa, dormir e... Repetir tudo no dia seguinte. A eles foram dados um contrato. Todos queriam ao final deles serem “SENHORES DE SEU PRÓPRIO TEMPO”, Mas, para conseguirem almejar tal fato, antes teriam que vender o seu tempo para o dono da fábrica, o mais poderoso morador da vila do tempo perdido, o “senhor Tempo”. Ela era dono da fábrica de horas e, ao contratar os moradores da vila, impunha certas regras de contrato. Não se poderia nunca em hipótese alguma argumentar sobre o Tempo e, teriam que sempre seguir meticulosamente os horários impostos por ele. Desta forma, se trabalhassem direito fazendo as horas, no futuro seriam recompensados sendo, com ele, senhores de seu tempo.
O que os morados da vila do tempo perdido não percebiam, é que, o senhor Tempo na realidade, roubava deles o melhor tempo de suas vidas, para, mais tarde, quando já não conseguisse fazer horas no tempo correto, devolver-lhes esse tal “tempo perdido”, porém, eles já estariam velhos para se importar ou serem capazes de ver o quanto foram roubados! Apenas uma pessoa na vila era realmente uma ameaça ao senhor Tempo: Trindade!
Nunca o senhor tempo conseguiu convencê-la a trabalhar para ele, mesmo dando promessas de um futuro maravilhoso, com instabilidade e conforto. Trindade nem gostava de falar sobre o tempo, achava-o arrogante, mesquinho e desonesto. Via que na vila, todos eram “escravos do tempo” e por isso não conseguiam ver a verdade por trás dele. Por mais que passasse muitas dificuldades, não venderia nunca seus encantadores minutos, suas alegres horas ou seus míseros segundos. Trindade concluía que, seu bem mais precioso era esse e, por isso, não iria vendê-lo, de maneira alguma ao “senhor Tempo”.
Os moradores da vila foram proibidos de se relacionarem com Trindade, pois ela possuía uma doença perigosa e contagiosa, que iria contaminá-los se falassem com ela. A essa doença foi dada o nome de vida! Trindade não se importava com isso. Mesmo que tivesse a tal doença vida. Pelo menos a ela não afetava viver. Ate gostava de sentir os sintomas da doença. Adorava, entre todos os sintomas o da liberdade. Sintoma talvez mais preocupante da tal doença, pois como ela, uma simples mortal poderia ser dona de tamanha liberdade?
Trindade percebeu que os moradores da vila envelheciam rápido, pois até os míseros segundos de suas vidas eram tomados pelo senhor tempo. Viviam sempre no tempo futuro, preocupados com o que o amanha iria conceber-lhes. Faziam sempre promessas de futuro e, a eles foram vendidos a esperança. Todos na vila tinham esperança. Principalmente a de um futuro melhor. Esse tipo de esperança era sempre a mais vendida em todas as lojas. Sempre que o senhor tempo queria parabenizar algum empregado pelo esforço, dava-lhe uma esperança de futuro melhor. O tempo presente era quase esquecido. O passado era lembrado às vezes, porém, o futuro... O futuro era sempre o mais procurado de todos os tempos. E, o senhor tempo ia ficando cada vez mais rico cada vez mais jovem por roubar a juventude de seus funcionários... Dava a eles quando já não o servia direito, o seu tempo envelhecido, enrugado e fraco.
Um dia, Trindade cruzou com o senhor tempo e, ambos sentiram uma vontade louca de trocar perguntas! Trindade engolia sempre as perguntas. Tinha medo das respostas e, de ser tomada por toda uma verdade que não conseguiria entender. De ser bruscamente morta por ela. MAS, sua coragem veio à tona e, sem que pudesse segurar, vomitou sobre o senhor tempo sua primeira pergunta:
Afinal, o que é que você é?
EU SOU A FORMA QUE NINGUEM ME DEU. O REAL QUE NINGUEM QUIS. UM REFLEXO DEFORMADO DO QUE NINGUEM DESEJA. SOU O ESPELHO E A SUA ALMA! SOU SUA PERFEICAO DESEJADA EM ALGO INDESEJADO... SOU SEU MEDO DO ACASO, SEU MEDO DE FELECIDADE, SOU TUDO O QUE NINGUEM QUISER... ISSO TE ASSUSTA?
Posso viver toda minha vida sem me preocupar com você?
NINGUEM SE PREOCUPA COM O TEMPO. POR ISSO NÃO ME PODEM PEGAR... SOU INDIVISIVEL E, MESMO ASSIM ME DESFACO POR INTEIRO PARA LHES AGRADAR... CUIDO DAQUILO QUE TEME FAZER E AINDA ASSIM, VOCE ME DETESTA! QUEM ESTE ERRADO, ENTAO?NUNCA QUIS CONTROLAR NINGUEM! NINGUEM ME RECRIOU E ME DEU VIDA E, AGORA NÃO POSSO DEIXAR DE SER. NADA QUE FACAS PODERA ME RECRIAR. FUI POR TODOS ESCOLHIDO E, ESSENCIALIZEI EM TODOS MINHA FORMA. SOU MUITO MAIS QUE HOJE. SEM A IDEIA ILUSORIA DE NÃO EXISTIR... ACOSTUME-SE COM O ESPACO QUE OCUPO E, ARREPENDA-SE DAS BESTEIRAS QUE FEZ ONTEM...
Se nada posso fazer para que você não exista, porque eu posso juntar todo o resto do dia para me libertar? Meu mundo inteiro se fez sem ti! Não preciso me entregar as suas vontades. Posso ainda ser eu!
Não quero viver contigo e, se for para viver sem ser naquilo que acredito...
Quero que saibas... Assim vivi, assim morri em minha vida,
Calma sob os murmúrios mudos do céu.
Fiel aquilo em que minha palavra deu.
A idéia tida...
E se for para fugir,
Esquece, pois me acabo aqui.
Só compreendemos o tempo quando ele se materializa se nomeia, em uma duração qualquer, só compreendemos a forma QUANDO ela se determina... O tempo, a forma, as coisas... Só as tornam perceptíveis quando encontram algo... Ë lógico que ALGO em si não conheça o tempo e esse espaço sobre algo e o tempo sejam extemporâneo e imenso, anterior ao que hoje especializamos se assim podemos falar...
quarta-feira, 25 de abril de 2007
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Um comentário:
Excelente texto. às vezes pode ser bem louca a nossa relação com o tempo... há alguns anos eu parei de usar relógio.
(www.pollyok2.zip.net)
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