sábado, 8 de outubro de 2011

45 minutos...

Acabo de chegar em casa.
A noite está agradável, e as pessoas nas ruas de São Paulo estão sozinhas como eu, apesar de muitas terem alguma companhia ao seu lado...
Todas vestem um personagem à noite, e, quanto perguntei a uma moça, que elogiou o meu vestido e se apresentou como figurinista qual o personagem que me cabia, ela deu um sorriso constrangido e não soube responder minha pergunta... Talvez eu engane, ou use de tantos meios para me personificar que fique indecifrável, quando na verdade não passava de mais uma pessoa sozinha na noite, mas que não precisava de ninguém ao seu lado para lhe fazer companhia...
Sempre que saio só, não consigo ficar muito tempo sem alguém vir falar comigo. Talvez seja um dom... Ou talvez, como diria um ex-namorado, culpa de "minha personalidade magnética"... Nosso relacionamento foi um tanto estranho, mas gostei deste ponto da conversa no dia que dissemos "Adeus". Apesar de ser um argumento de ataque, me soou sincero, e então aceitei o fato e o tomei como verdade.
O primeiro a se dispor a conversar comigo foi um moço que me pediu a brasa do cigarro para acender o seu, logo que virei à esquina de casa. Ele olhou para mim, segurou no meu casaco e disse: Esse seu batom é de marca, né?- Que tipo de pessoa, começa uma conversa com uma estranha na rua desta forma? Dei um sorriso pequeno, destes que a gente dá para não parecer desagradável, e ele continuou: Você é linda, eu me casaria com você!- Neste momento eu só queria que ele acendesse logo o seu cigarro, devolvesse o meu e soltasse o meu casaco para continuar o meu caminho. Este diálogo deve ter durado cerca de 30 segundos, mas foi o suficiente para perceber que os homens falam aquilo que eles acreditam que as mulheres gostariam de ouvir...
Ele enfim soltou meu casaco, perguntou se eu era japonesa, respondi um "aham" e ele se despediu com um "Sayonara". Continuei.
Chegando ao teatro, pedi uma água para a moça do bar, sentei na última cadeira vazia e fiquei esperando para entrar no monólogo que iria assistir.
(...)
- 45 minutos depois-
Na saída do teatro, parei para fumar um cigarro antes de ir embora, na esperança de conseguir coragem para parabenizar o ator, que fez seu papel incrivelmente bem...
Outro rapaz veio me pedir fogo, e desta vez, saquei os fósforos que tinha na bolsa e ofereci, numa tentativa frustrada de não dar espaço para qualquer tipo de "intimidade". Logo me perguntou: Você é atriz? - Toda vez que alguém me faz esta pergunta, me dá uma vontade quase incontrolável de rir, mas me contive e respondi: Não, eu pareço atriz? E ele respondeu: Você tem um rosto bom para atriz, mas acho que deveria usar batom vermelho!- Ok, a história do batom de novo? Gente, quem está com o texto do roteiro da minha vida??? Dá pra ser menos clichê?- Novamente um sorriso pequeno...
No espaço de tempo que durou meu "sorriso pequeno", outros dois amigos entraram na conversa, se apresentaram e ficaram discutindo tons de batons vermelhos que eles gostavam, numa conversa que me soou no mínimo estranha... - Ah... Eu gosto de batons vermelhos mais pro vinho. - disse um deles. - Eu gosto daqueles vibrantes- disse o outro. - E um deles se voltou a mim e disse: Você não usa batom vermelho?- Batom vermelho deve ser usado em certas situações, com a roupa adequada, não em todo o momento, respondi.
A única coisa que eu pensava era se a coragem de ir parabenizar o ator viria logo para me salvar daquela conversa bizarra, mas ela não apareceu...
-Sabe, eu fiz USP, sou da Eca, músico, ator... Já fiz Matemática na PUC também e... (blá blá blá blá blá blá- alguém aí tem um 38? Pode atirar em mim por favooorrrrr????)- Fiquei pensando em tanta coisa enquanto aquele cara falava este tipo de coisa, que minha expressão deveria ser de pensativa e interessada, pois ele não parava de falar... E eu só conseguia pensar se ia de uma vez dar os parabéns para o ator que estava praticamente na minha frente agora...
Num momento súbito de redenção, fui salva por duas meninas, que também me pediram o fogo. Agradeci em pensamento e me voltei para elas, fingindo mais interesse na conversa que poderia acontecer ali.
E foi então que tive a certeza que todos naquele local buscavam um pouco de atenção ou alguém que pudessem impressionar de alguma forma...
Terminei meu cigarro, disse pra menina que elogiou o meu vestido e não soube me dizer em qual personagem eu me encaixaria que pra mim, ela poderia estar num filme do Matheus Souza. Ela riu e disse que não o conhecia...
Me despedi e, passando do lado do ator que deveria receber os meus parabéns, mas que não tive coragem de dar, voltei para casa...

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